quinta-feira, 1 de maio de 2014

Não, obrigado...

Caminhando à noite, na direção do Shopping Mueller, Sílvio acabara de atravessar a rua quando deparou-se com um bar. Inspecionou superficialmente o local. Algumas pessoas estavam sentadas em cadeiras diante de um balcão iluminado, bebendo e comendo animadas. Dentre todos os presentes, destacou-se uma mulher loira, com batom vermelho, de cabelos compridos e pele clara. Percebeu que ela estava de calça jeans e uma camisa de mangas curtas, em tons pastéis.

Sílvio então, sem reparar, não caminhava mais. Apenas a observava, a mais ou menos dez metros de distância pois o bar era comprido e espaçoso. Algo havia lhe cativado no sorriso daquela mulher. De repente, ela vira o rosto em sua direção e acontece um encontro de olhares. Ela se levanta e começa a andar, ainda sorrindo e aproximando-se dele, sem perder o contato visual.

Ele se pergunta o porquê daquilo estar acontecendo quando o normal seria que ela simplesmente desviasse seu rosto, ou ele o fizesse. Porém, por algum motivo que não sabe explicar, ele permanece ali. Talvez seja a curiosidade de descobrir a razão de um comportamento que lhe parece tão incomum. Ela então se aproxima e expõe diante dele a verdade nua e crua:

- Oi amigo! Você quer fazer um programinha?

Aquilo o pegou de surpresa. Devia ter imaginado a explicação mais banal: a mulher é uma prostituta. Óbvio que não aceitaria a proposta. Jamais havia tido uma relação sexual dessa forma. Respondeu de maneira automática, sem refletir muito a respeito:

- Não, obrigado...

Começou a caminhar novamente, não mais percebendo a mulher que havia deixado atrás de si. "Ela tem realmente um belo sorriso", pensou. Continuou refletindo que, mesmo sendo uma prostituta, ela não se comportava de forma vulgar. pelo menos até o momento em que fez a proposta. E mesmo assim, não foi numa linguagem tão chula.

Ela o fez pensar nos quase dois anos em que estava sozinho, solteiro e sem se relacionar com mulher alguma. Estranhou como aquela garota que vira há pouco provocou nele estas reflexões tão profundas a respeito de sua vida sentimental. Percebeu que, apesar das aparências, ela realmente lhe inspirou algo bom. Não pensava mais a respeito dela como uma prostituta e sim como alguém que talvez não tivesse tido muita sorte. Fantasiou até mesmo que, não fossem as circunstâncias e fosse a realidade diferente, poderia ser até uma namorada. Poderiam caminhar de mão dadas. Poderiam se abraçar e passear no shopping à noite.

"Certo, estou muito fragilizado para pensar algo assim. Imagine, por causa de uma prostituta...", refletiu. Começou a dobrar a esquina quando foi interrompido por um grito:

- Ei, moço! Só um momento!

Ela continuava no mesmo lugar em que a havia deixado. Estava observando-o à distância. Sílvio nada disse. Apenas olhava atento. Ela continuou:

- Muito obrigada por ter sido gentil comigo!

Sílvio esboçou um sorriso e fez um gesto com a mão, como que dizendo "Não tem de quê". Continuou a dobrar a esquina, saindo do campo de visão da garota que o observava. Ele estava com uma expressão alegre em seu rosto. Havia feito a diferença para alguém.